E filhos?

Cá vou eu insistir num assunto que me persegue e para o qual só tenho estas expressões: ESTOU FARTA! "DESLARGUEM-ME"!
E a "farteza" tem por base esta simples questão: E filhos?
Pois para que fique registada e definitivamente concluída esta questão:
Eu sei que tenho 31 anos (aparentemente uma idade avançada), que sou gaja (o que parece que me confere assim uma vontade inata em procriar), que essa é a ordem natural das coisas (sim, há pessoas que verbalizam que é esta e só esta é a ordem natural das coisas) e que ter filhos é assim a melhor coisa do mundo. E arredores. Será?
Pois bem, tenho a informar que eu sei isso tudo. Já ouvi isso tudo. Desde os meus, vá lá, 25 anos que oiço essa cantilena. E também escusam de me lembrar que estou com o meu namorado há muito tempo e que "está na altura". Assim como está na altura para os meus pais serem avós. E todas as demais argumentações que queiram usar, como aquela hilariante de que eu sou uma pessoa muito responsável.
É que... Honestamente: eu começo a achar que corro o sério risco de nunca vir a ter filhos apenas e só para irritar e provar a todas essas pessoas que essa não é a ordem natural das coisas e muito menos a única e que uma gaja pode não ter esse como um objectivo de vida e ser - espante-se - realizada! E feliz!
Não ter filhos para "irritar e provar" seja o que for a alguém é uma coisa parva de se fazer, mas raios me partam - Para já: tenham voces os filhos e sejam felizes e realizados voces com eles! Parabéns! E votos de saudinha!
Eu só quero dizer que efectivamente não sei. Não sei se vou ter filhos ou tão pouco se quero ter filhos. E não saber é também uma forma de estar na vida.
Mas uma coisa eu sei. Sei que a minha condição de mulher não depende disso para ser feliz. E isto eu não sei, mas tenho sérias dúvidas que seja assim uma coisa muito acertada pôr filhos neste mundo, dada a crise, a instabilidade a vários níveis e tudo o mais. Assim como não sei se é efectivamente a "melhor coisa do mundo", porque às coisas todas que o mundo tém para oferecer, teria de as experimentar primeiro para depois opinar e escolher a "melhor".
Ás vezes, ter filhos, parece-me mais um acto de egoísmo do que propriamente de amor, mas enfim... Essa já será uma outra conversa. E para a qual eu não devo ter as qualificações necessárias - podem alguns considerar, visto que nunca pari.
No entanto, não quero acabar este desabafo sem antes deixar aqui algumas hipóteses de conversação comigo, para aqueles/as que não sabem o que me perguntar quando me encontram. Porquê que não me perguntam antes coisas deste tipo: Tens viajado e conhecido outras culturas? Tens estudado e contribuido assim para a tua formação? Tens tido projectos interessantes a nível profissional? E espectáculos, tens ido a alguns interessantes ultimamente?"...
Gostava muito que deixassem os meus óvulos em paz.
Eles agradecem. E eu deixo de revirar os olhos e passar por uma "gaja esquisita" cada vez que respondo à teimosa pergunta que se parece impor perguntar a quem tem trinta e poucos anos e uma vagina.